A Empregada, novo trabalho de Paul Feig (Um Pequeno Favor) adapta o best-seller de Freida McFadden, um thriller que se apoia na sutileza, nas entrelinhas e no jogo cuidadoso de revelações. No entanto, o filme parece travar uma disputa entre o material literário e a necessidade do diretor de ampliar tudo à escala do espetáculo.
A escolha de Feig fazia sentido à primeira vista: ele domina narrativas protagonizadas por mulheres, sabe construir tensão com humor ácido e já provou habilidade no suspense contemporâneo. O problema é que sua leitura da obra se distancia do que o romance exige. Enquanto McFadden constrói seu enredo de forma meticulosa, revelando as camadas de Millie e Nina com precisão quase cirúrgica, Feig prefere acelerar, intensificar e seduzir o público com soluções mais barulhentas do que necessárias.
O resultado é um thriller que, por vezes, tenta ser uma espécie de sucessor espiritual de Um Pequeno Favor, apostando em erotização, cenas estilizadas e conflitos turbinados para além do que a história comporta. Essa abordagem reduz a tensão psicológica (um dos pilares do livro) e faz com que momentos que deveriam ser inquietantes se tornem melodramáticos. O triângulo amoroso, por exemplo, é tratado com tanta urgência que compromete nuances importantes da relação entre as protagonistas.
Curiosamente, esse gosto pelo exagero contrasta com um dos acertos do filme: a divisão de pontos de vista. O roteiro de Rebecca Sonnenshine articula bem as múltiplas perspectivas e oferece um jogo narrativo envolvente, ainda que irregular. Há instantes em que o filme reconhece a complexidade emocional do livro; em outros, cai em excessos que o afastam do suspense mais contido que poderia ter sido.

Os temas contemporâneos presentes no romance aparecem, mas raramente sustentam o peso dramático principal funcionando mais como moldura do que como discurso. Ainda assim, a obra sobrevive por causa do elenco. Sydney Sweeney constrói uma Millie que cresce cena após cena, partindo de uma presença tímida até revelar uma força feroz. Amanda Seyfried, por outro lado, entrega uma Nina instável, provocativa e totalmente entregue ao caos da personagem. Juntas, elas criam uma dinâmica que sustenta o filme mesmo quando a direção perde o fôlego!
Brandon Sklenar oferece um Andrew cheio de ambiguidades, mas o desenvolvimento do personagem fica aquém do potencial. Já Enzo (que no livro já era secundário) praticamente desaparece na adaptação, o que é sintomático da tentativa do filme de abraçar mais elementos do que consegue administrar.
No fim, A Empregada se divide entre lampejos de um thriller elegante e momentos em que sucumbe ao impulso de “fazer mais”. Para quem busca reviravoltas e um suspense leve, a experiência funciona. Mas leitores do livro provavelmente sentirão falta da contenção e da precisão que fizeram a obra de McFadden se destacar.
Ainda que imperfeito, o filme se apoia no carisma de seu elenco e na força do enredo original, resultando em um suspense competente para fechar o ano apenas não o thriller arrebatador que poderia ter sido.
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