Gen Z e o novo jeito de fazer política

Crédito: Divulgação

Parece que, até hoje, as gerações mais velhas ainda olham pra Gen Z com um certo desdém , é a turma que “não quer trabalhar”, “não se compromete com nada” e “vive trancada no quarto rolando o feed e fugindo da vida real”. Mas o plot twist vem aí: é justamente dessa vida online, que muitos apontam como alienante, que estão surgindo alguns dos movimentos políticos mais intensos da última década.

E convenhamos, esse tipo de julgamento é um clássico entre gerações . Os Boomers achavam que a galera da contracultura era um bando de hippies maconheiros que só queriam ouvir música. A Gen Z, por sua vez, mostrou que veio pra impor limites, nos relacionamentos, no mercado de trabalho e na vida. Um contraste nítido com os Millennials, que penaram pra se valorizar e colocar preço no próprio tempo.

Segundo o psicanalista Christian Dunker, esse ciclo é natural e até esperado. Ele cita uma regra da Antropologia dos Mitos pra explicar o fenômeno:

“Existe uma permutação alternante entre gerações: uma geração cria um ideal A, a subsequente é A ao contrário. A seguinte volta no A, só que modificado. Então, uma geração lá atrás sonhou em se sacrificar até os 40 ou 50 anos pra ‘vida de verdade’ começar depois da aposentadoria. Aí vem a próxima geração que vai recriar essa coisa do sacrifício, mas talvez não precise ser tão longo.”

Essa reflexão apareceu no documentário Cansei.”, produzido pelo Estag (sim, o mesmo das Newsletters ) em 2020, que discutia produtividade em tempos pandêmicos. Fica a dica pra assistir!

Mas o ponto é, mesmo com olhares enviesados e preconceitos de geração pra geração, é impossível negar que a Gen Z está se mobilizando . Diante de crises ambientais e de saúde mental globais, essa é talvez a geração que mais se preocupa com o futuro da humanidade.

A BBC trouxe exemplos potentes disso: em Madagascar, jovens tomaram as ruas contra a falta de energia e água, e acabaram derrubando o governo. No Quênia, a indignação com a corrupção e o alto custo de vida virou protesto físico e digital que sacudiu o sistema político. Já no Peru, a pressão dos jovens diante de escândalos de corrupção foi tão intensa que o Congresso acabou afastando a presidente do cargo. ⚡

Esses são só alguns dos vários exemplos que mostram como a Gen Z está agindo globalmente. Da Indonésia ao Marrocos, do Paraguai ao Nepal, essa galera está ocupando não só as ruas, mas também os feeds. A política não se faz mais só em palanques e gabinetes, hoje, ela acontece também no algoritmo. ✨

E é aí que entra a Creator Economy. Enquanto creators transformam influência em renda, jovens ativistas tentam transformar influência em impacto político. A lógica é parecida, o que viraliza ganha força e se espalha, mas precisa emocionar pra virar pauta. A diferença é que, em vez de converter likes em vendas, eles convertem engajamento em indignação, e nesse mercado de atenção, tem espaço pra todo mundo.

Curioso, né? O mesmo ecossistema que muitos chamam de superficial, cheio de vídeos curtos, trends e comentários de ódio, virou a principal ferramenta de mobilização global. É ali, entre danças, memes e threads, que a gente também aprende a cobrar nossos direitos. Antes, descobrir quem eram os deputados federais ou quanto eles ganhavam era uma missão quase impossível. Hoje, basta seguir um creator politizado pra ter essas informações em segundos. ⚖️

A internet, que já foi puro entretenimento, agora também serve pra nos lembrar que o mundo não é justo. E tudo bem, a internet “inocente” da era pré-política era ótima, ninguém brigava por voto e o auge era postar foto da janta com filtro craquelado .

Mas toda ferramenta poderosa tem seu lado B ⚠️. A mesma lógica que impulsiona protestos também pode fragmentá-los. Movimentos horizontais, sem líderes fixos, são mais democráticos, mas também mais frágeis. Hashtags unem, mas não constroem necessariamente um movimento sólido. O algoritmo ama picos de atenção (e a gente também, porque o FOMO é real ), mas ele não sabe lidar com processos de longo prazo. E é aí que mora o desânimo de muita gente com a política, ela exige tempo e persistência.

Esse dilema é o mesmo da Creator Economy, o criador que viraliza uma vez e depois some vive o mesmo risco de um movimento que derruba um governo, mas não consegue reconstruir o que vem depois. A diferença? No caso dos creators, o prejuízo é o engajamento, no da política, é o destino de um país inteiro.

O pesquisador Steven Feldstein, do Carnegie Endowment for International Peace, explicou à BBC que “a mudança exige que as pessoas encontrem formas de transformar um movimento online disperso em algo com visão de longo prazo, com vínculos tanto físicos quanto digitais”.

Mesmo assim, é impossível não enxergar esperança nessa onda . A Gen Z mostra que se importa, sim, e que não precisa estar sozinha pra promover mudanças políticas significativas. No meio de tanto ruído, a internet pode aprisionar, criar bolhas e anestesiar, mas também pode libertar, se usada de forma ativa, com propósito e curiosidade.

Talvez essa geração ainda não esteja mudando governos no sentido tradicional, mas está testando novos formatos e experimentando novas maneiras de fazer política no século XXI.

A Gen Z não escreve manifestos longos, mas cria threads informativas na medida certa pra quem quer entender rápido. Pode nem sempre sair às ruas, mas ocupa os espaços digitais, e a gente viu o quanto isso foi importante na pandemia. Não confia em partidos tradicionais, mas acredita em causas. ❤️

E talvez seja aí que as gerações anteriores ainda se percam, não é falta de interesse, é apenas uma nova forma de se interessar.

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