A tão esperada produção da A24, “Fale Comigo” – Diamond Films, chegou aos cinemas envolta em mistério e expectativa, prometendo uma abordagem cinematográfica única e emocionalmente impactante. No entanto, o filme que tem gerado debates acalorados deixa evidente que sua complexidade nem sempre é um fator negativo.
Desde os primeiros minutos, o longa estabelece um ambiente intrigante e absorvente, fazendo uso sábio de uma paleta de cores sombria e uma trilha sonora melancólica. A estética cuidadosamente escolhida estabelece um tom adequado para a narrativa, que embora confusa, evoca uma sensação de inquietação que percorre todo o filme.
A trama conduzida pelos irmãos gêmeos Danny e Michael Philippou, conhecidos pelo canal no Youtube, The RackaRacka, evita dar todas as respostas de bandeja, desafiando o público a se envolver de forma intelectual e emocional. A natureza enigmática da narrativa leva os espectadores a formular teorias e conjecturas, envolvendo-os ativamente no processo de decifrar o que está acontecendo.
Os atores entregam performances competentes, adicionando camadas de complexidade aos personagens poucos profundos que povoam esse universo. Destacando principalmente a atriz australiana Sophie Wilde, que rouba a cena como Mia, em meio ao luto pela perda da mãe e suas angústias interpessoais. Embora a falta de desenvolvimento psicológico possa ser uma desvantagem, essa lacuna pode ser vista como uma oportunidade para os espectadores preencherem esses espaços com suas próprias reflexões.
Vale destacar a crítica necessária a geração Z e sua carência em filmar tudo o que acontece ao seu redor a ponto de aumentar seus status e até mesmo prejudicar a imagem de um colega para ser aceito em um ambiente que não tem a ver com si próprio.
No que diz respeito à narrativa visual, o filme apresenta momentos visualmente impressionantes, com cenas que conseguem capturar a sensação de desconforto e inquietação. Tornando a experiência não focada apenas em sustos e medos, justamente seu ponto forte.
“Fale Comigo” uma obra que transcende a categorização tradicional, oferecendo uma experiência cinematográfica cheia de simbolismo. Sua abordagem diferenciada em relação aos elementos sobrenaturais e ao estilo visual contribui para sua identidade única, afastando-se das denominações tradicionais dos filmes de terror e se destacando como uma obra cinematográfica mais ampla e contemplativa, pois é capaz de oferecer ao público momentos de reflexão que podem perdurar após os créditos finais.
Resumindo, o novo longa da A24 é uma tentativa ousada e ambiciosa que, embora não alcance todas as suas aspirações, ainda tem seus momentos de brilho. A complexidade da trama, as performances envolventes e a coragem em explorar temas não casuais revelam uma produção cinematográfica que, apesar de suas falhas, merece reconhecimento por seu compromisso com a inovação e a provocação intelectual. O filme é um lembrete de que, no mundo do cinema, nem todas as experiências bem-sucedidas são sem desafios.
Fale Comigo estreia dia 17 de agosto em todos os cinemas, confira o trailer:
