Cia. Artera encerra com “Bichados”, uma trilogia LGBTQIA+

Foto de Leekyung Kim

A Cia. Artera de Teatro encerra sua trilogia sobre corpos dissidentes LGBTQIA+ com a estreia do solo “Bichados“. O espetáculo, dirigido e dramaturgado por Ricardo Corrêa e interpretado por Davi Reis, está sendo apresentado gratuitamente em teatros e centros culturais municipais de São Paulo, entre os dias 19 de outubro e 30 de novembro. Este projeto foi contemplado pela segunda edição do Edital de Apoio a Projetos Múltiplas Linguagens para a cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura.

A primeira peça da trilogia da Cia. Artera foi “Bug Chaser – Coração Purpurinado“, que abordou o HIV nos dias atuais, práticas de risco e contaminação proposital pelo vírus. O texto foi construído a partir de uma ficção entrelaçada com depoimentos de diversos homens gays que se dispuseram a falar sobre o assunto. Esse trabalho foi reconhecido como um dos espetáculos mais significativos de 2017 pela academia de críticos da Bravo.

A segunda parte da sequência de peças, “Monstro“, também partiu desses depoimentos e girou em torno do tema da adoção homoafetiva e da intolerância. O espetáculo foi indicado ao prêmio APCA em 2021.

Foto de Leekyung Kim

Semelhante às suas antecessoras, “Bichados” tem como ponto de partida uma série de entrevistas com pessoas LGBTQIA+, desta vez, todas com mais de 45 anos. Esse processo de pesquisa também resultou no lançamento do documentário “Quem tem medo de envelhecer?” que será disponibilizado em plataformas virtuais em novembro de 2023.

A ideia central deste projeto é dar voz às pessoas LGBTQIA+ invisibilizadas nessa faixa etária, que muitas vezes enfrentam o dilema de “voltar ao armário” e enfrentar diversos desafios. A dramaturgia criada explora elementos documentais em contraste com a ficção, utilizando uma linguagem cinematográfica para investigar uma narrativa elíptica repleta de histórias no enredo, com saltos e transições temporais.

O diretor e dramaturgo Ricardo Corrêa descreve o espetáculo como a história de um ator que já teve seus momentos de fama e agora se sente descartado em vários aspectos de sua vida, com os dias preenchidos por tarefas sem sentido. Esses sentimentos fazem com que as pessoas se sintam como “animais”, sufocadas por um vazio que mal conseguem compreender. A peça questiona se realmente vale a pena viver a vida ultraexaminada, repleta de distrações de marca, compartilhamento compulsivo e isolamento racionalizado. Geralmente, essas questões não são analisadas pelos LGBTs mais jovens, tornando este projeto comovente e provocativo para qualquer pessoa que se depare com os desafios do envelhecimento, do luto e da finitude.

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