No dia 19 de junho, o Mezanino do Sesc Copacabana recebeu a estreia do espetáculo “EDDY — Violência & Metamorfose”, primeira adaptação brasileira da obra de Édouard Louis, um dos maiores fenômenos literários da última década!
A montagem foi assinada pela Polifônica, companhia criada por Julia Lund e Luiz Felipe Reis, que já se preparava pra comemorar 10 anos de trajetória em 2025. Na direção, um time de peso: Luiz Felipe Reis e Marcelo Grabowsky. A dramaturgia foi construída a partir de três livros superpotentes do autor francês: “O Fim de Eddy”, “História da Violência” e “Mudar: Método”.
E olha… o próprio Édouard Louis deu aquele sinal verde mega empolgado pro projeto:
“É a primeira vez que isso será feito no mundo. Então, sim, façam isso, realizem esse projeto!”, vibrou o escritor, que foi interpretado no palco pelo ator João Côrtes.
Com uma proposta forte, sensível e urgente, a peça mergulhou em temas como violência de classe e de gênero, homofobia e xenofobia, aprofundando ainda mais a reflexão que a Polifônica já vinha fazendo sobre as estruturas de poder, opressão e dominação masculina no mundo.
“A gente sempre buscou, em cada trabalho, provocar uma reflexão coletiva sobre como a obsessão masculina por poder, controle e dominação gera danos em corpos — humanos, não humanos, e na própria Terra. E, principalmente, em tudo que é visto como feminino”, explicou na época Luiz Felipe Reis, diretor e coidealizador.
Luiz também reforçou que sua conexão com a obra de Édouard Louis nasceu dessa investigação sobre as violências do mundo patriarcal e capitalista:
“Édouard descreve com precisão os efeitos devastadores das forças de opressão. Sua obra é um alerta, um chamado à transformação. Violência e metamorfose estão profundamente conectadas. A violência nos provoca a reagir e transformar o mundo”, completou.
️ Julia Lund, que também esteve no palco, ressaltou:
“Nossa peça parte de uma obra que se ramifica em diferentes histórias. São vivências que, embora tenham acontecido na França, poderiam muito bem ter acontecido aqui, no Brasil, porque a violência contra o feminino — seja qual for o corpo — é uma ameaça constante em qualquer lugar do mundo”, afirmou.
O espetáculo também deu continuidade à pesquisa estética da companhia, que desde 2015 apostava na polifonia cênica, unindo teatro, cinema, literatura e som, criando experiências únicas e potentes. ️
Marcelo Grabowsky, que voltou a colaborar com a companhia, assinou a direção ao lado de Luiz Felipe e também a dramaturgia.
“Admiro muito como a Polifônica pensa a cena teatral. Existe uma importância gigante em colocar vivências e subjetividades gays no palco. Mesmo com os avanços, o preconceito segue produzindo violência. Édouard faz um trabalho brilhante ao transformar seu próprio terror em potência criativa”, pontuou Grabowsky.
️ A história girou em torno de um episódio real e supermarcante vivido por Édouard. Na véspera de Natal de 2012, em Paris, ele conheceu Redá (interpretado por Igor Fortunato), um jovem de origem argelina. Depois de uma noite juntos, Édouard foi violentado e quase assassinado. Esse episódio, relatado no livro “História da Violência”, desencadeou uma reflexão intensa sobre como as estruturas sociais alimentam e perpetuam a violência.
Um ano depois, ainda lidando com traumas, procedimentos médicos e processos judiciais, Édouard voltou pra sua cidade natal e se hospedou na casa da irmã Clara (vivida por Julia Lund). Foi desse reencontro que surgiu uma costura de memórias, relatos e reflexões que atravessaram os livros “O Fim de Eddy”, “História da Violência” e “Mudar: Método”, numa jornada sobre machismo, racismo, homofobia e, claro, transformação. ️
João Côrtes, que viveu Édouard no palco, abriu o coração:
“Me identifico muito com a trajetória do Édouard. Como homem gay, também conheço esses lugares de insegurança, violência, desejo de ser amado e aceito. A peça fala disso de forma muito simbólica e profunda. Foi uma responsabilidade gigante dar voz a ele, mas também uma honra trabalhar com Luiz e Marcelo, que são diretores incríveis”, contou.
Já Igor Fortunato, que deu vida a Redá, fez uma reflexão potente:
“Meu personagem é ambíguo. Ele também sofre violências por ser imigrante — e eu, como ator nordestino no Rio, entendo um pouco disso, claro que em outras proporções. O espetáculo mostrou como o oprimido pode se tornar opressor dentro desse sistema perverso. É uma despersonalização brutal”, analisou.
Julia Lund também fez questão de reforçar que, embora a história fosse francesa, ela reverberou fortemente aqui no Brasil, um país que lidera os índices de assassinato de pessoas LGBTQIAP+ no mundo — uma pessoa morta a cada 34 horas, seja por homicídio ou suicídio.
“Sou fã do Édouard, li tudo que saiu em português. A obra dele abre portas fundamentais pra pensarmos sobre violência social, sexual e de classe. É por isso que ela toca tanta gente, de tantas realidades diferentes”, concluiu.
️ Quem esteve presente pôde conferir de perto: “EDDY — Violência & Metamorfose” estreou no Sesc Copacabana e foi, sem dúvidas, um espetáculo potente, urgente e necessário — que mexeu (e muito!) com a cabeça e o coração de quem ocupou aquela plateia. ❤️
️ Serviço
Mezanino do Sesc Copacabana
️ Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Tel.: (21) 3180-5226
️ De 19 de junho a 13 de julho de 2025 (quinta a domingo)
⏰ Horário: 20h30
Ingressos: R$ 10 (associado Sesc), R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira)
️ Bilheteria:
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Terça a sexta: 9h às 20h
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Sábados, domingos e feriados: 14h às 20h
Classificação indicativa: 18 anos
⏳ Duração: 110 minutos