Vencer uma corrida pode trazer fama, grana e prestígio . Mas, para Henry Ford, duas vitórias em especial foram o ponto de partida para realizar um sonho que mudaria o mundo sobre quatro rodas: fundar a Ford Motor Company e, com ela, revolucionar a indústria com a produção em massa de automóveis .
Tudo começou em 1896, quando Ford montou seu primeiro carro, o Quadriciclo, no galpão de casa. A engenhoca desfilou pelas ruas e chamou a atenção em Detroit. No embalo, ele fundou a Detroit Automobile Company em 1899 com apoio do prefeito da cidade, William Maybury. Só que o sonho virou pesadelo rapidinho: a empresa fechou em menos de um ano, sem produzir um único carro e acumulando prejuízo de US$ 86 mil . Os investidores não curtiram a ideia de Ford de fabricar um carro popular e barato — e ele largou tudo.
Mas o fracasso só deu mais gás pro cara. Ford decidiu que precisava provar que seu carro era bom de verdade. E como? Correndo com ele! ️ “Nunca pensei em ser piloto, mas o público só via o carro como um brinquedinho veloz. A gente precisava correr”, afirmou.
Com ajuda de engenheiros, Ford criou o Sweepstakes, um carrinho leve, rápido e cheio de inovações, como um sistema rudimentar de injeção de combustível e bobinas de ignição com isolamento em porcelana . A estreia foi numa corrida promovida pelo Detroit Driving Club, em 1901, numa pista oval de terra batida em Grosse Pointe, Michigan.
O desafio? Vencer o campeão norte-americano Alexander Winton e seu temido Bullet, com 70 cv contra os modestos 26 cv do Sweepstakes. A disputa tinha dez voltas e Winton disparou na frente, abrindo 300 metros nas três primeiras . Mas na metade da corrida, Ford começou a encostar. Na sétima volta, o motor de Winton falhou e soltou fumaça — era a chance! Ford passou voando pelas arquibancadas lotadas e venceu com folga .

A plateia foi ao delírio. Segundo Clara Ford, esposa de Henry, um homem chegou a jogar o chapéu pro alto e pisoteá-lo de tanta empolgação . Ford levou uma poncheira de cristal e um cheque de US$1.000 — uma mixaria perto do que ele investiu no carro. Mas a vitória valeu ouro: o nome Henry Ford estava no topo e provado que ele sabia o que estava fazendo.
Logo após a corrida, choveram propostas de investidores. Nascia ali a Henry Ford Company. Mas o clima azedou quando Ford quis focar em carros de corrida e os sócios queriam modelos de passeio. O estopim? A contratação de outro mecânico, Henry M. Leland, que criticou o projeto do motor. Ford largou tudo em 1902 com US$ 900 no bolso e uma nova ideia na cabeça .
A ex-empresa acabou virando a Cadillac, que foi comprada pela General Motors em 1909 — ironias da vida, né? ♂️
Ford então se juntou ao ciclista campeão Tom Cooper e criou dois monstrões das pistas: o Arrow (vermelho) e o 999 (amarelo), nomes inspirados no famoso trem americano . Esses carros tinham motores de quatro cilindros com 70 cv e eram brutos! “O ronco desses cilindros era de matar um homem”, brincou Ford.
Para pilotar as feras, eles chamaram outro ciclista, Barney Oldfield. Detalhe: o cara nunca tinha dirigido um carro na vida! Mesmo assim, ele topou o desafio. Em 25 de outubro de 1902, rolou uma revanche contra Winton. Resultado? Oldfield venceu os 8 mil metros com um tempo recorde de 25 minutos e 28 segundos. Ninguém chegou perto. Lenda nasce assim!
Finalmente, em 16 de junho de 1903, Ford e mais 11 sócios fundaram a Ford Motor Company. Com só US$28.000 no bolso, algumas ferramentas, muita coragem e fé, eles deram início ao que viraria uma das maiores marcas da história automotiva .
Entre os sócios, tinha de tudo: um negociante de carvão, um gerente, um banqueiro, dois irmãos mecânicos, um carpinteiro, advogados, um dono de loja, um funcionário de escritório e até um cara que fazia moinhos de vento e espingardas de ar comprimido. Um verdadeiro time dos sonhos (ou quase isso!)
Hoje, 122 anos depois, dá pra entender por que a Ford nunca deixou de enxergar o automobilismo como seu verdadeiro laboratório. Foi nas pistas que tudo começou — e foi nelas que Henry Ford mostrou ao mundo que correr não era só uma brincadeira, mas o caminho para mudar a história
 
			









